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Dificuldade no controle financeiro tem raízes no analfabetismo matemático
Por: Prof PhD Marcos Crivelaro - professor PhD da FIAP - Faculdade de Informática e Administração Paulista e da Faculdade Módulo, especialista em matemática financeira e consultor em finanças.
É comum encontrarmos pessoas reclamando de sua situação financeira fragilizada, procurando sempre um culpado por estarem inadimplentes. É verdade que a maior parte da população trabalha já há muito tempo com orçamentos mais otimizados, devido a uma demanda de mercado que fez com que boa parte dos salários fosse realinhada para novos patamares. Mas o comprometimento da renda do trabalhador poderia ser mais bem direcionado se alguns cuidados fossem tomados.

As armadilhas financeiras a que todos estamos sujeitos podem ser visualizadas antes mesmo de sua ocorrência. Para que isso aconteça, é necessário um conhecimento prévio, mas não necessariamente aprofundado, dos sistemas financeiros que regem nossa sociedade. Na maioria dos casos, porém, quando um estudante termina o ensino médio e olha para trás, tem a consciência de que não possui uma bagagem suficiente de conhecimentos matemáticos e não se sente seguro para lidar com os números - inclusive para equilibrar as próprias finanças.

Sem ter domínio das quatro operações básicas (soma, subtração, multiplicação e divisão), como será possível utilizar a matemática como ferramenta da vida cotidiana, como pagar contas, receber troco ou calcular juros de uma prestação? Alunos que até a quarta série do ensino fundamental não conseguem dominar conceitos numéricos básicos terão enorme dificuldade para prosseguir seus estudos no decorrer dos anos, comprometendo o aprendizado futuro e, mais tarde, o desempenho profissional.

Não basta saber fazer um cálculo. É necessário entender a que ele se propõe, objetivando uma formação adequada do cidadão quando ele ainda é criança, através do aprendizado de cálculos e formas de controle, como, por exemplo, tabelas que registrem entradas e saídas de recursos provenientes do trabalho do indivíduo.

Segundo pesquisa divulgada em 2004 pelo Instituto Paulo Montenegro, braço social do IBOPE, 77% dos brasileiros não dominam habilidades matemáticas em tarefas do dia-a-dia. Somente 50% dos brasileiros conseguem ler números grandes (mil, milhões, bilhões) e fazer comparações de preços de produtos. Os estudos indicam ainda que apenas 23% dos brasileiros conseguem interpretar gráficos publicados em jornais e revistas e resolver problemas que exigem mais de um tipo de cálculo.

Outra pesquisa, realizada em 2003 pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), com cerca de 300 mil estudantes das 4as e 8as séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio, mostra que a maioria dos alunos da 4ª série do ensino fundamental apenas demonstra habilidades elementares e que deveriam ser assimiladas por quem está concluindo a 1ª série, como leitura de horas e minutos somente em relógio digital e multiplicação com números de um único algarismo.

Esses dados comprovam o chamado analfabetismo funcional matemático, que ainda aflige o sistema educacional brasileiro. Demonstram que, mesmo depois de quatro anos de ensino fundamental, muitas crianças não conseguem construir competências básicas para a vida cotidiana nem para prosseguir seus estudos na quinta série.

Com incentivo e boas condições de ensino, a tarefa de aprender a calcular torna-se mais fácil. Quando há estímulo, o interesse pela matemática cresce entre os estudantes. Uma saída é utilizar-se de práticas pedagógicas que pelo menos minimizem a dificuldade de aprendizado do aluno, complementem os conteúdos matemáticos pertinentes e despertem-lhes o interesse em resolver problemas lógicos e matemáticos.

Uma solução encontrada é trabalhar o cálculo matemático e o seu entendimento por intermédio do lúdico, da inspiração e da diversão. Um trabalho mais humanizado, no qual os alunos são acompanhados pelo professor para que possam obter ajuda e respostas para suas questões, em tempo real. Os esforços devem ser concentrados nos temas em que há realmente dificuldade de aprendizado. Por exemplo, senso de estimativa e de porcentagem podem ser ensinados, às vezes, durante uma visita de alunos a um supermercado. É importante também incentivar os alunos a participarem de disputas do tipo Olimpíada de Matemática, com possível distribuição de medalhas e prêmios.

A calculadora, geralmente proibida até o ensino médio, pode ser uma grande aliada ao invés de vilã. No dia-a-dia, quem consegue usar uma calculadora adequadamente destaca-se perante os demais colegas de trabalho. As calculadoras científicas modernas permitem, por exemplo, que seja digitada no visor a expressão matemática de maneira idêntica à do livro e após um apertar de tecla o resultado já é apresentado. Muitos conhecimentos importantes que não foram solidificados durante a trajetória matemática dos alunos podem ser revisados e resolvidos via calculadora. É importante frisar aos alunos que esse cálculo, no contexto em que se encontram da vida, é apenas uma ferramenta utilizada para obter conclusões nas áreas de atuação profissional que agora estudam.

Mudar a realidade no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes é primordial para a qualidade de vida que desejamos que eles venham a ter no futuro, como cidadãos socialmente responsáveis. A matemática tem que ser construída em um trabalho que a torne mais lúdica e inteligível aos olhos dos alunos e também estimulante e desafiadora.


Notcia Postada em 18/07/2007 por: Prof PhD Marcos Crivelaro

 
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